SINFONIA AMADEO

Project Info

Project Description

Sinfonia Amadeo
(Seis quadros musicais inspirados em pinturas de Amadeo de Souza-Cardoso)
para banda sinfónica

  • data de composição: 2020/21
  • duração: ca. 50 min. (5’+6’+13’+11’+6’+9’)
  • encomenda: Banda Musical de Amarante
  • dedicatória: «À Banda de Amarante e ao seu maestro, Hugo Folgar, com amizade e apreço.
    Em comemoração do centenário da morte do grande pintor português e amarantino, Amadeo de Souza Cardoso (1887-1918).»
  • andamentos:
    I – Entrada (Fanfarra)
    II – Canção Popular – a Russa e o Fígaro
    III – Procissão Corpus Christi
    IV – Dom Quixote
    V – Canção Popular e Pássaro do Brasil
    VI – Final (Sem título)
  • info pormenorizada sobre instrumentação:
    picc. (= fl. 3)/ 2 fl./ 2 ob./ c. ing./ 2 fg./ contafag. [opc.]/ req./ clar.: I, II & III (min. 4 cada)/ clar. bx./
    clar. cbx. em sib [opc.]/ sax. sop./ 2 sax. alto/ 2 sax. ten./ sax. bar./ sax. bx. [opc.]/ 4 tpa./ 3 trpt./
    2 flisc. (= trp. 4. e 5.)/ 3 trbn. ten./ trbn. bx./ 2 euf./ tubas (min. 2)/ cbx. [opc.]/ timp./
    5 perc.* / celesta [opc.]/ guitarra [opc.]/ harpa* percussão detalhada:

    1. glockenspiel; xilofone; vibrafone; sinos tubulares; crótalos; triângulo; caixa de rufo; 3 pratos suspensos [pequeno/ médio/ grande]; reco-reco [güiro]; 3 temple blocks; clavas; agogô; tam-tam; 2 blocos de madeira; prato suspenso sizzle
    2. vibrafone; glockenspiel; xilofone; crótalos; triângulo; timbalão de chão [sem bordões]; pandeireta; caixa de rufo; tam-tam; clavas; 2 temple blocks; reco-reco [güiro];
      assobio de pássaro
    3. sinos tubulares; triângulo; 3 pratos suspensos [pequeno/ médio/ grande]; tam-tam [grande];
      caixa de rufo; prato suspenso sizzle [médio]; matraca; timbalão de chão [sem bordões];
      prato suspenso splash; pratos a2; 2 bongós; reco-reco [güiro]; flexatone;
      2 blocos de madeira; mark tree; pandeireta; vibraslap
    4. vibrafone; pratos a2; pandeireta; 3 pratos suspensos [pequeno/ médio/ grande];
      cabasa [afuché]; chicote; triângulo; Rute; tam-tam; clavas; tom-tom (agudo); 2 chocalhos; pau de chuva; reco-reco [güiro]; matraca; caixa tenor [sem bordões]
    5. sinos tubulares; mark tree; bombo; tambor provençal [ou timbalão de chão];
      3 temple-blocks; pandeireta; bloco de madeira [médio]; chicote; vibraslap; caixa de rufo; surdo [ou timbalão de chão]; prato suspenso [grande]; pratos a2; crótalos; Rute; tam-tam

[NOTA: percussões de altura definida (negrito + itálico) não necessitam ser dobradas]

  • pré-estreia: 19/Dezembro/2022 | Aveiro, Auditório do DeCA (Universidade de Aveiro) | Orquestra de Sopros do DeCA – Universidade de Aveiro / dir. Luís Carvalho

Amadeo de Souza-Cardoso, um dos expoentes da pintura modernista portuguesa, nasceu em Amarante em 1887, mas ganhou mundo em Paris, onde viveu entre 1907 e 1914. Ali, privou com alguns dos maiores vultos artísticos daquele tempo, entre os quais Modigliani, Chagall ou Klee. Regressado a Portugal, convive com Almada Negreiros e o grupo do Orpheu em Lisboa, uma geração de artistas responsáveis pela introdução do modernismo nas artes e letras portuguesas. Morre em 1918, vítima da epidemia da Gripe Espanhola, que se estima ter ceifado a vida a mais de 20 milhões de pessoas e infectado cerca de 500 milhões mundialmente, um terço da população mundial à época. Só em Portugal, a “Pneumónica”, como ficou conhecida, levou, para além de Amadeo, o compositor António Fragoso (1897–1918), o maestro David de Sousa (1880–1918) e o também pintor Guilherme de Santa-Rita (1889–1918).

Quando, em 2018, o maestro Hugo Folgar me abordou sobre a possibilidade de escrever uma obra musical de fundo sobre quadros de Amadeo de Souza-Cardoso, para comemorar o centenário do nascimento deste pintor, reflecti durante algum tempo sobre a melhor forma de enfrentar o desafio. Tenho escrito muita música inspirada em pintura (Chiaroscuro, Metamorphoses, Mosaico, Níl, …), mas sempre com uma abordagem indirecta ao universo pictórico. Sejam gravuras, técnicas ou cores que inspiram a minha música, procurei sempre evitar perspectivas artísticas lineares no sentido de descrever sonoramente um quadro ou gravura ou qualquer outra característica do universo da pintura. Antes, optei sempre por uma óptica em certa medida inversa: que música (abstracta) me suscita o que estou a observar? Neste sentido, a minha música não será tanto uma consequência da imagem/quadro em que me inspiro, mas antes um seu complemento artístico (musical), com as suas próprias vicissitudes e intencionalidade. O desafio lançado pelo maestro Folgar materializou-se mais tarde numa encomenda oficial da Banda Musical de Amarante, já em 2020, e lancei-me ao trabalho. Não tive inicialmente a ideia de escrever uma sinfonia, mas à medida que a composição evoluía, cada vez mais a densidade da música que estava a escrever me pareceu merecer esse epíteto, quer pela dimensão, quer como homenagem ao grande pintor. A qualidade da obra que Amadeo nos deixou merece ser celebrada de forma grandiosa, e foi isso que procurei nesta minha Sinfonia Amadeo, baseada em seis dos seus quadros.

Mais uma vez, não tentei descrever directamente o conteúdo visual dos quadros. Mas procurei, agora, elementos de cada quadro que eu pudesse, de alguma forma, transpor para a minha música. Assim, concebi uma grande sinfonia em seis andamentos, cada qual correspondendo a um dos quadros de Amadeo de Souza-Cardoso por mim escolhidos:

  1. Entrada (fanfarra): aqui utilizo a ideia do título do quadro, que é também uma palavra que aparece desenhada na própria tela, e que por sua vez está relacionada com a ideia de Intrada, um termo latim que designa uma peça musical em forma de fanfarra com carácter introdutório de uma obra mais vasta. No meu caso, escrevi, precisamente, uma eloquente fanfarra para grande banda a abrir esta sinfonia com pompa.
    1. Amadeo -- Untitled [Entrada]
  2. Canção Popular – a Russa e o Fígaro: o “Fígaro” a que se refere Amadeo é o centenário jornal francês Le Figaro, que aparece subtilmente imbuído no quadro. Eu optei por utilizar, de forma algo teatral, a palavra “Fígaro”, agora imbuída no meu discurso musical. Ora é sussurrada, ora falada e até gritada em vários momentos da peça, quer por todos os músicos, quer por secções específicas e até por um indivíduo de especial relevância à frente da orquestra. Há ainda uma breve e mordaz referência a outro rossiniano Figaro particularmente famoso. Para a “Russa” servi-me de um excerto de uma canção popular russa.
    2. Amadeo -- Canção Popular - a Russa e o Fígaro
  3. Procissão Corpus Christi: a religiosidade é uma forte componente social do povo português, em especial no norte do país, onde se situa Amarante e de onde Amadeo era originário. Sustentado num ritmo de marcha de procissão estático, lamentoso e quase omnipresente, vou desfilando impressões musicais que o colorido e surreal quadro de Amadeo me suscita. Utilizo também, misturado com os meus próprios temas, o hino medieval Pange lingua, escrito por São Tomás de Aquino no séc. XIII precisamente para a solenidade do Corpus Christi.3. Amadeo -- Procissão Corpus Christi
  4. Dom Quixote: o cavaleiro da triste figura é trazido à minha música através de uma dança medieval (quasi gagliarda), elegante e sofisticada, mas filtrada pelos olhos de um compositor do séc. XXI. Em jeito de trio contrastante, sirvo-me de uma “dança rústica” também estilizada, para aludir ao pragmático Sancho Panza (ainda que este não apareça no quadro), antítese do fidalgo e sonhador Dom Quixote.
    4. Amadeo -- Dom Quixote
  5. Canção Popular e Pássaro do Brasil: aqui servi-me de um tema popular brasileiro que perpassa todo o andamento, num ambiente constantemente efusivo e de festividade, onde, inclusive, aparece uma alusão a uma bateria de samba, numa alegre folia protagonizada pelas percussões. O exotismo da fauna voadora brasileira é exibido num momento de alegre caos que procura imitar a cacofonia do canto dos pássaros na floresta amazónica.
    5. Amadeo -- Canção popular e pássaro do Brasil
  6. Final (Sem título): um dos títulos cliché da Arte modernista é, precisamente, “Sem título”! E uma sinfonia dedicada a Amadeo não poderia ignorar os seus inúmeros quadros sem título. Se o quadro aqui escolhido não tem título, tem-no a música como “Final”, representando exactamente o andamento que culmina a sinfonia. Musicalmente, baseei-me no abstraccionismo reinante neste quadro, mas optei também por alusões/citações a todos os outros cinco andamentos antecedentes, num processo de recapitulação e auto-referenciação que culmina com uma versão ligeiramente modificada da grandiosa fanfarra que termina também o primeiro andamento. Assim, pretendo dar uma coerência estrutural à obra no seu conjunto, depois da longa viagem por vários quadros de Amadeo.
    6. Amadeo -- Untitled (1917)

Apesar da relação mais directa que desta vez assumi com os quadros que me serviram de mote (ainda que, reitero, sem intenção especificamente descritiva), a minha sinfonia é uma obra autónoma e com o seu próprio universo artístico. Na verdade, cada um dos andamentos foi concebido como um pequeno poema sinfónico auto-suficiente que, no limite, pode ser apresentado individualmente como peça autónoma ou agrupado com apenas alguns dos outros andamentos. Pretendi, assim, criar uma obra de arte per se (sinfonia), impulsionada por outra obra de arte pré-existente (pintura de Amadeo), num espírito de diálogo criativo entre gerações.

Outubro/2021


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